“Não procuremos o velho no novo,

mas encontremos algo novo no velho.”

- Siegfried Zielinski

Referências de pesquisa

Perspectiva na área da Comunicação

     O amplo conceito de Arqueologia da Mídia é uma vertente de estudos no campo da Comunicação que se propõe a investigar a história dos meios de comunicação, percorrendo os processos midiáticos por um viés histórico, social, científico e cultural de determinado tempo. Propõe-se a revisitar o passado, buscando nele algo novo que se atualize no presente. Nesse movimento, pode ser percebido o retorno de elementos arcaicos ou extintos sob um novo aspecto. A cronologia no estudo dos fenômenos midiáticos considera o tempo de forma cíclica, e não uma progressão linear. Ou seja, não se considera a ideia de que uma tecnologia é superior à outra pelo avanço progressivo do tempo, nem no termo de que "uma técnica supera a outra".
     A premissa da “Arqueologia das Mídias” ficou conhecida como a “teoria de mídia alemã” e têm ganhado mais abordagens na últimas duas décadas. A proposta “encara os desafios colocados pela cultura de mídia contemporânea levando maior consideração pelo passado do que, no geral, os estudos de novas mídias o fazem (FIGUEIREDO, 2016, p. 3)”.
     Essas hipóteses foram elaboradas a partir das considerações dos principais autores abordados nas pesquisas que reunimos em torno da Arqueologia da Mídia no país, estrangeiros e brasileiros, que você pode conferir a seguir.

AUTORES E CONCEITOS

  • Siegfried Zielinski, autor do livro Arqueologia da mídia: em busca do tempo remoto das técnicas do ver e do ouvir, de 2006:

“A arqueologia da mídia, de acordo com minha compreensão, significa ao menos duas coisas: não aceitamos a ideia de que a mídia tenha sido inventada no século XIX com o advento da fotografia, telefonia e cinematografia, ou seja, que a mídia seja resultado da industrialização. Os meios de comunicação têm uma história muito mais longa, que remonta às chamadas altas culturas dos períodos bizantino, chinês, indiano, sul-americano ou helenístico. Para investigar isso, adaptei o termo “tempo profundo” da paleontologia. Além disso, se usamos a variedade/diversidade como o critério decisivo para o que chamamos de progresso na civilização humana, períodos anteriores poderiam ter sido mais progressistas do que nossas culturas atuais. Estas últimas são altamente estandardizadas, seguem padrões e gramáticas, protocolos e regras cujo efeito é mundial” (ZIELINSKI, 2001, p. 8).


  • Jussi Parikkaautor da obra What is Media Archaeology?, de 2012:

“Para mim, a arqueologia da mídia é exatamente uma metodologia que presta atenção na especificidade de mídia (...) Atua, pelo menos, de duas formas (...) como uma forma de investigar passados de mídia - a fim de compreender a ontologia do presente – e como métodos arqueológicos de investigar como as tecnologias condicionam nossas formas de ver e pensar, de agir e lembrar[1]”.

[1] Fragmento extraído de entrevista de Parikka a Soderman e Starosielski. Disponível em http://goo.gl/9sDmrK

Você também pode conferir mais sobre o conceito para o teórico em seu website.


  • Erkki Huhtamo, parceiro de Jussi Parikka na edição do livro Media Archaeology: Approaches, Applications, and Implications, de 2012, e autor do livro Illusions in Motion: Media Archaeology of the Moving Panorama and Related Spectacles, de 2013:

“É uma forma de estudar fenômenos cíclicos que (re) aparecem, desaparecem e reaparecem uma e outra vez na história da mídia e, de alguma forma, parecem transcender contextos históricos específicos. De certa forma, o objetivo da arqueologia media é explicar a sensação de déjà vu (...) sobre as maneiras em que as pessoas têm experimentado a tecnologia em períodos anteriores” (HUHTAMO, 1997, online).


  • Wolfgang Ernst, autor da obra Media Archaeography: Method and Machine versus History and Narrative of Media (2011):

“A questão crucial para a arqueologia da mídia reside em saber se, nesta interação entre tecnologia e cultura, o novo tipo de imaginação histórica que emergiu foi um efeito de novos meios de comunicação, ou se tais meios foram inventados pela demanda da condição epistemológica da época” (ERNST, 2013, p. 42).


  • Erick Felinto, professor do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e pesquisador do CNPq, dedicado aos estudos da cibercultura:

“A arqueologia da mídia é algo bastante novo (ainda que o termo em si já possua alguma história), e apenas agora começa a popularizar-se e conquistar um estatuto mais definido. Ela dialoga com certos aspectos importantes de abordagens características da teoria pós-moderna, como o materialismo cultural, as teorias de gênero, a análise do discurso, os estudos pós-coloniais, noções de temporalidade não linear etc. O que ela faz essencialmente é vasculhar os arquivos textuais, visuais e auditivos das mídias (de todas as mídias, analógicas ou digitais), enfatizando as manifestações discursivas e materiais da cultura” (FELINTO, 2011, p. 5).


  • Francisco Rüdigerdoutor em Ciências Sociais pela Universidade de São Paulo e Mestre em Filosofia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), também dedicado aos estudos de cibercultura:
“Método de estudo da história, em que as técnicas de comunicação são iluminadas pela cultura e o imaginário social de cada época, em que se pesquisam as conexões, mas também as rupturas, as continuidades e esquecimentos do processo em que os fenômenos de comunicação, seus meios sobretudo, se vão formando e entrelaçando com outros processos e estruturas coletivas” (RÜDIGER, 2011, p. 12).


  • Fabrício Lopes da Silveira, professor e pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Universidade do Vale do Rio do Sinos - Unisinos:
“É uma vertente de trabalho, um nicho de estudos, digamos assim, no campo da comunicação, que vem procurando discutir a técnica por um viés histórico, da história da cultura. Não dá para dizer ainda que seja uma teoria acabada, já bem construída. Creio que seja um tipo de abordagem nova para a questão da técnica, que tenta pensar um desenvolvimento tecnológico que não aconteceu. A arqueologia da mídia indaga: onde poderíamos estar hoje caso os desdobramentos da mídia e suas linguagens tivessem adotado outro rumo?” (SILVEIRA, 2011, p. 17).


OUTROS CONTEÚDOS

     A maior parte dos trechos acima foram retirados das entrevistas reunidas na edição 375 do Instituto Humanitas, da Universidade do Vale do Rio do Sinos - Unisinos, em 2011, intitulada Arqueologia da Mídia. Um passado presente. A revista pode ser acessada nesse link.

A página Monoskop denominada como uma enciclopédia online de estudos colaborativos sobre artes, mídia e humanidades, realiza uma curadoria de abordagens sobre Arqueologia da Mídia. Para quem deseja aprofundar seus conhecimentos sobre o assunto, o website é uma rica fonte de pesquisa.






FONTES

http://jussiparikka.net/2012/05/08/what-is-media-archaeology-out-now/
http://monoskop.org/Media_archaeology 

REFERÊNCIAS

ERNST, Wolfgang. Digital memory and the archieve. Minneapolis: University of Minnessta Press, 2013.
FELINTO, E. Um futuro complexo, híbrido, incerto e heterogêneo. Revista do Instituto Humanitas Unisinos. UNISINOS. Número 375, Outubro 2011.
FIGUEIREDO, Ruy Cézar Campos. Cinema, telefone e mobilidade: arqueologia das mídias e pós-midialidade em processo de criação com mídia locativa e instalação audiovisual. 2016.
FOUCAULT, Michel. A arqueologia do saber. Rio de Janeiro: Forense-Universitária, 1987.
HUHTAMO, Erkki. From Kaleidoscomaniac to Cybernerd: notes toward na archaeology of the media. Leonardo, v. 30, 3/1997. Disponível em <http://goo.gl/KjtQqz> Acesso em: 1 abr. 2015. 
RÜDIGER, F. O passado pode nos ensinar a seu próprio respeito. Revista do Instituto Humanitas Unisinos. UNISINOS. Número 375, Outubro 2011.
SILVEIRA, F. L. Arqueologia da mídia: preocupação com os estudos da técnica. Revista do Instituto Humanitas Unisinos. UNISINOS. Número 375, Outubro 2011.
ZIELINSKI, S. Ser offline e existir online. Revista do Instituto Humanitas Unisinos. UNISINOS. Número 375, Outubro 2011.




Embora a arqueologia da mídia não possua métodos definidos de pesquisa, é justamente a sua indefinição que permite flexibilidade e abrangência (FELINTO, 2011, p. 5). 

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